PIETRO MARIA BARDI

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA EM LA SPEZIA (1900-1917)

Pietro Maria Bardi nasceu no dia 21 de fevereiro de 1900 em La Spezia, cidade italiana no Golfo de Gênova. Segundo de quatro filhos, diziam que era de poucos amigos e que sua vida escolar era bastante conturbada. Abandonou a escola e atribuiu sua inteligência a um acidente doméstico: dizia que tomou gosto pela leitura após uma queda em que feriu a cabeça. Passou a estudar por conta própria, lendo tudo que podia – hábito que o acompanhou por toda a vida. Aos 17 anos, publicou pela editora Avanti de Milão, um pequeno opúsculo Geremia Benthan: dei possedimenti coloniali, sobre o filósofo inglês Jeremy Bentham. Ainda rapaz, trabalhou como operário assistente no Arsenale Marittimo e, em seguida, tornou-se aprendiz em um escritório de advocacia. Em 1917 foi convocado para integrar o exército italiano e partiu de La Spezia para não mais retornar.

 

INÍCIO DA CARREIRA JORNALÍSTICA EM BÉRGAMO (1917-1924)

É nessa fase que Bardi iniciou de fato sua carreira jornalística, antes já esboçada em alguns artigos e colaborações a jornais como Gazzetta di Genova e o Independente. Instalado em Bérgamo desde a baixa na carreira militar, encontrou trabalho no Giornale di Bergamo. Mais tarde, integrou a equipe do Popolo di Bergamo, Il Secolo, e no expressivo Corriere della Sera, de Milão. Casou-se, em 1923, com Gemma Tortarolo, com quem teve duas filhas, Elisa e Fiorella, e transferiu-se para Milão no ano seguinte. Escrever foi sua principal atividade profissional até a morte, a maneira encontrada para manifestar seu estilo polêmico e a crítica baseada no conhecimento profundo e na vivência cotidiana da arquitetura, da arte, da política e, principalmente, da cultura.

 

AS GALERIAS EM MILÃO (1924 – 1930)

Foi em Milão que Bardi começou sua aventura como marchand e crítico de arte, de início trabalhando em galerias existentes. Em 1926, criou seu próprio espaço, com a aquisição da Galleria dell’Esame. Em 1928, fundou a Galleria Bardi, em via Brera, onde apresentou vários artistas. No mesmo ano, lançou um Boletim de Arte que era editado pela galeria e, em 1929, o Belvedere, um jornal de arte de grande formato que durou 10 edições – críticos e intelectuais frequentavam o local e sua atuação ficou em evidência. Em junho de 1930, transferiu-se para a capital italiana para dirigir a Galleria d’Arte di Roma.

1 Cover of Pietro Maria Bardi's first published book: Geremia Benthan: dei possedimenti coloniali

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3 Pietro Maria Bardi. Italy, 1933

4 Pietro Maria Bardi at the beach. Italy, sem data.

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OS ANOS EM ROMA (1930-1946)

Autodidata, Bardi combinou várias frentes de atuação em revistas e jornais com as atividades de marchand e diretor de galerias de arte, além de crítico e jornalista. Em Roma teve contato com artistas de toda a Itália e, com desenvoltura, participou de iniciativas marcantes em prol da renovação da arquitetura, em defesa dos racionalistas – em 1932 esteve na Rússia pela revista “Architecture d’Aujoud-hui”. Como editor, uma iniciativa bem sucedida foi a revista Quadrante; a publicação, criada por ele e Massimo Bontempelli em 1933, foi um dos principais vetores do debate moderno, até seu encerramento em 1937. Em 1933 aproximou-se dos arquitetos das vanguardas de outros países, participando do quarto Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM). No final desse mesmo ano levou uma exposição de arquitetura italiana a Buenos Aires, quando passou pelo Brasil pela primeira vez. Ao voltar ao seu país promoveu conferências de Le Corbusier em Roma e Milão, em 1934. Entre o período de 1938 a 1943, dirigiu, escreveu e atuou como designer gráfico para a revista mensal Il Vetro, que trazia questões sobre a aplicação do vidro na arquitetura e na indústria. Em 1944, fundou o Studio d’Arte Palma, um importante centro de pesquisa e venda de arte, e onde conheceu a jovem Lina Bo, em uma visita da arquiteta à Roma. Bardi se divorciou da esposa e se casou com Lina em agosto de 1946.

1 Pietro Maria Bardi in Atenas, in 1933

2 Pietro Maria Bardi

3 Pietro Maria Bardi and Le Corbusier. Rome, 1934

4 Cover of the II Vetro magazine (No. 10). Rome, October 1938

5 Pietro Maria Bardi with colleagues at the Galleria d'Arte di Roma

6 Vista interna do Studio d’Arte Palma em Roma

VINDA AO BRASIL E AS PRIMEIRAS EXPOSIÇÕES NO RIO DE JANEIRO (1946-1947)

Em 1946, recém casados, Bardi e Lina iniciam a aventura da vinda para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade no campo das artes e cenário de uma arquitetura promissora. Partiram de Gênova com destino permanente ao Brasil, a bordo do cargueiro Almirante Jaceguay, trazendo uma significativa coleção de obras de arte e peças de artesanato, além da enorme biblioteca de Bardi. Desembarcaram, em outubro do mesmo ano, no Rio de Janeiro, onde permaneceram nos primeiros meses. Com as obras trazidas da Itália, organizou a “Exposição de pintura italiana antiga”, na sede do Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, em cujos salões encontrou o empresário Assis Chateaubriand, que o convidou para montarem juntos o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 1947, o casal Bardi se mudou para São Paulo – apesar da preferência de Lina por continuar no Rio de Janeiro.

1 Pietro Maria Bardi at the Exhibition Pintura Italiana Antiga. Rio de Janeiro, 1946

2 Pietro Maria Bardi and Assis Chateaubriand

3 Catalog of the Pintura Italiana Antiga exhibition. Rio de Janeiro, 1946

4 Catalog of the Pintura Italiana Moderna exhibition. Rio de Janeiro, maio de 1947

OS ANOS EM SÃO PAULO E À FRENTE DA DIREÇÃO DO MASP (1947-1999)

Em 1947, junto com Lina, realizaram as primeiras instalações do Museu, provisoriamente situado na Rua 7 de Abril. Foi nomeado diretor do MASP já em 1947, cargo que iria ocupar por quase todo o resto de sua vida. Realizou, até o ano de 1953, uma série de viagens à Europa e Estados Unidos para a aquisição de obras que formariam o acervo do Museu. Sua gestão no museu foi pioneira em vários aspectos: privilegiava o caráter didático na apresentação das obras, e promoveu diversas atividades pedagógicas como cursos de gravura, desenho, pintura e escultura. Promoveu exposições temporárias de artistas, prática inédita em museus e que até hoje se mantém nessas instituições, divulgou artistas novos e consagrou grandes nomes da arte brasileira. Junto com publicitários criou no MASP a Escola de Propaganda, hoje ESPM. Em 1950, fundou e dirigiu, com Lina Bo Bardi, a revista Habitat, oficialmente vinculada ao recém fundado MASP e que se definia como a “revista das artes do Brasil”. Permaneceram na direção até sua 15ª edição (com exceção dos números 10 a 13, encabeçados por Flávio Motta). Em 1951, Bardi fundou e dirigiu – até 1953 – com Lina o Instituto de Arte Contemporânea, escola também vinculada ao MASP e uma das primeiras iniciativas de ensino de design no Brasil. Em 1968, fundou a revista Mirante das Artes, sendo responsável integralmente por sua organização e edição durante seus 12 números. 

1 Pietro Maria Bardi at Studio de Arte Palma. São Paulo, 1950

Foto Roberto Maia

2 Pietro Maria Bardi at Studio Palma. São Paulo, 1948

3 Pietro Maria Bardi and Alexander Calder. Brazil, October 17, 1948

4 Letter from Le Corbusier to Pietro Maria Bardi. Paris, February 7, 1951

5 Pietro Maria Bardi alongside models from Dior, Lina Bo Bardi and Paulo Franco. 1951

6 Pietro Maria Bardi reading

7 Pietro Maria Bardi, GIdion, Segall and Warchavchik. 1952

8 Pietro Maria Bardi next to canvases from the Museu de Arte de São Paulo (MASP). São Paulo, September 14, 1958

9 Pietro Maria Bardi at the Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Foto Miroslav Javurek

10 Pietro Maria Bardi and Rockefeller at the Museu de Arte de São Paulo

11 Museu de Arte de São Paulo (MASP) under construction on Avenida Paulista

Foto Hans Gunter Flieg

12 Pietro Maria Bardi, Queen Elizabeth and Prince Philip at the inauguration of MASP on Avenida Paulista, in 1968

13 Rainha Elizabeth at the inauguration of MASP on Avenida Paulista, in 1968.

Foto Miroslau Javurek

14 Easels from the art gallery of the Museu de Arte de São Paulo (MASP) with the work of Amedeo Modigliani on display

15 Bardi, Edmondo Monteiro, Assis Chateaubriand. Glass House,1950-60

16 Bardi, Edmondo Monteiro, Assis Chateaubriand. Glass House,1950-60

17 Pietro Maria Bardi observing works of art

Ao longo de todos os anos no Brasil, manteve sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador e galerista. Publicou, em 1992, seu 50º e último livro, “História do MASP”. Em 1990, Bardi e Lina fundaram o Instituto Quadrante – hoje Instituto Bardi/Casa de Vidro. Estando presente figuras como Fábio Luiz Pereira de Magalhães, Modesto Souza Barros Carvalhosa, José Mindlin, Renato Requixa e Renato Magalhães Gouveia. Segundo a ata de constituição, Bardi declarou a “conveniência de instituir uma entidade privada que possa desenvolver isoladamente ou em conjunto com o Museu de Arte de São Paulo – Assis Chateaubriand – MASP e, ainda, com entidades nacionais e do exterior, atividades culturais e estudos relacionados com a história da arte e da arquitetura”. Em 1996, se afastou do comando do MASP, mas permaneceu à frente da presidência do Instituto Bardi desde a fundação até seu último ano de vida. 

Pietro Maria Bardi faleceu em outubro de 1999, tendo cumprido quase um século de vida de muita história e dedicação às artes, na Itália e no Brasil.

1 Pietro Maria Bardi next to sculpture

2 Pietro Maria Bardi. São Paulo, August 15, 1978

3 Pietro Maria Bardi and map

4 Pietro Maria Bardi beside the easels of the Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Foto Michael Soluri

5 Pietro Maria Bardi at the Museu de Arte de São Paulo (MASP) on Avenida Paulista

6 Pietro Maria Bardi between two paintings, at MASP

7 Pietro Maria Bardi on Avenida Paulista, in front of the Museu de Arte de São Paulo (MASP)

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9 Pietro Maria Bardi in front of the Museu de Arte de São Paulo (MASP) on Avenida Paulista

10 Pietro Maria Bardi. 1987

11 Pietro Maria Bardi with a drawing of his face

12 Portrait

13 Pietro Maria Bardi at the Glass House