LINA BO BARDI

INFÂNCIA E PRIMEIROS ESTUDOS EM ROMA (1914- 1939)

Achilina di Enrico Bo Bardi – Lina Bo Bardi – nasceu no dia 05 de dezembro de 1914 em Prati di Castello, em Roma. Filha de Giovanna Adriana Grazia e Enrico Bo, e irmã mais velha de Graziela Bo, Lina mostrou desde pequena seu talento para as artes. Seu pai – engenheiro, construtor e pintor – ensinou-lhe o desenho, atividade que então passaram a praticar juntos desde os 10 anos de idade de Lina – pintava a guache e aquarela, com o mesmo apreço aos detalhes que o pai. Sua formação escolar e acadêmica foi inteiramente fundamentada em Roma. Em 1933, graduou-se no Liceu Artístico e, entre 1934 e 1939, foi uma das poucas mulheres a frequentar a Facoltá di Architettura da Università degli Studi di Roma. Aos 25 anos, se formou arquiteta, apresentando o trabalho intitulado “Núcleo Assistencial da Maternidade e da Infância”, um projeto com estrutura de concreto armado e vidro aparente, linguagem que mostrou certa inovação frente ao estilo arquitetônico oficial da escola.

1 Lina Bo Bardi criança. Itália, década de 1910

2 Família de Lina Bo Bardi

3 Lina Bo Bardi ao lado de Mariella e Graziella em Rimini (Itália)

4 Lina Bo Bardi ao lado de Mariella e Graziella em Porto Canale (Itália)

5 Lina e sua irmã Graziella Bo. Itália, 1928

6 Desenho feito por Lina Bo Bardi com 10 anos. Roma, 26 de setembro de 1925

7 Aquarela feita por Lina Bo Bardi. Roma, 1933

8 Foto de turma do colégio que Lina Bo Bardi estudou. Roma, 1923

9 Lina Bo Bardi. Roma, 1938

10 Maquete do Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI) de Lina Bo Bardi. Roma, 1939

Página do álbum de fotografia da família

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AS EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS EM MILÃO (1940-1946)

Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Lina se mudou para Milão e associou-se ao arquiteto Carlo Pagani, com quem fundou o estúdio Bo e Pagani e também com quem realizou trabalhos para o escritório de Gio Ponti. Desenvolveu uma série de artigos para periódicos italianos, tanto de autoria própria quanto conjunta, além de colaborar na editoração e ilustração de diversas revistas, tais como Lo Stile – nella casa e nell’arrendamento, Grazia, Belleza, Vetrina e L’Ilustrazionoe Italiana. Em 1944 foi chamada para a codireção da revista Dommus e, em 1945, novamente com Pagani, fundou e dirigiu a Quaderni di Domus. No mesmo ano criaram, com a colaboração de Raffaele Carrieri e Bruno Zevi, a revista A, Cultura della Vita, como síntese de “Attualità, Architettura, Abitazione, Arte”, dedicada a levar os problemas da reconstrução a um público não especializado, e preocupada em abordar os temas da vida cotidiana a partir da consciência da realidade psicológica do pós-guerra. Com o fim da Guerra, Lina retornou brevemente à Roma e, em uma visita ao Studio d’Arte Palma, conheceu Pietro Maria Bardi, com quem se casou em 1946.

1 Papel de carta de Lina Bo

2 Lina Bo Bardi no jardim de seu escritório em Vila Gesú. Milão, 1940

3 Lina Bo Bardi na praia

4 Lina Bo Bardi lendo

5 Lina como repórter para o jornal Milano Sera, após o fim da II Guerra

Foto Federico Patelanni (Milano Sera)

6 Lina Bo Bardi em viagem à Isla de Giglio. Itália, 1945

VINDA AO BRASIL E OS PRIMEIROS ANOS EM SÃO PAULO (1946-1957)

Em 1946, recém casados, Lina e Pietro Maria iniciam a aventura da vinda para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade no campo das artes e cenário de uma arquitetura promissora. Partiram de Gênova a bordo do cargueiro Almirante Jaceguay, e desembarcaram, em outubro do mesmo ano, no Rio de Janeiro, onde permaneceram nos primeiros meses. Recém chegados, foram convidados pelo jornalista, empresário e político Assis Chateaubriand para fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Mudaram-se para São Paulo e já em 1947 realizaram as primeiras instalações do Museu, provisoriamente situado na Rua 7 de Abril. Em 1948, Lina criou, em parceria com Pietro Maria, o arquiteto Giancarlo Palanti e Valeria Piacentini Cirell, o Estúdio de Arte Palma, dedicado ao projeto e desenho de mobiliário moderno e industrial. Fundou e dirigiu em 1950, com Pietro Maria Bardi, a revista Habitat, oficialmente vinculada ao recém fundado MASP e que se definia como a “revista das artes do Brasil”. Em 1951, ano em que naturalizou-se brasileira, Lina completou seu primeiro projeto arquitetônico construído: a Casa de Vidro, sua residência e de Pietro Maria – foi a primeira residência construída no bairro do Morumbi, implantada em um dos pontos mais altos do loteamento e imersa em meio a densa vegetação de Mata Atlântica. Ainda em 1951, fundou e dirigiu, com Pietro Maria Bardi, o Instituto de Arte Contemporânea – escola também vinculada ao MASP e uma das primeiras iniciativas de ensino de design no Brasil. No período entre 1955 e 1956, Lina atuou como professora de Teoria da Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em regime temporário para substituir um professor – sua primeira experiência como docente. Nesta época escreveu sua tese de magistério Contribuição Propedêutica ao Ensino da Teoria de Arquitetura, para um concurso que foi eventualmente indeferido, de modo que a arquiteta não conseguiu integrar formalmente o corpo docente da faculdade. Em 1957, realizou os primeiros estudos para a nova sede do Museu de Arte de São Paulo na Avenida Paulista.

1 Lina Bo Bardi a bordo do Almirante Jaceguay, rumo ao Brasil, em 1946

2 Lina no Rio de Janeiro

3 Lina no auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP) na Rua Sete de Abril

4 Desenho da fachada do Museu de Arte de São Paulo da Rua 7 de Abril, feito por Lina Bo Bardi

5 Lina Bo Bardi em Carnaval no IAB, com colar de águas marinhas desenhado por ela. São Paulo, 1948

Foto Henri Ballot

6 Estudo para cavalete do Museu de Arte de São Paulo da Rua 7 de Abril, feito por Lina Bo Bardi

7 Lina e Gregory Warchavchik no Baile do Mau Gosto no Trianon - Carnaval. São Paulo, 1949

Foto Henri Ballot

8 Desenho de mobiliário do Estúdio de Arte Palma

9 Instalações quadros no Musée de L´Orangerie. Lina desenhando. Ao fundo, Pietro ajuda na instalação. Paris, 1953

Foto German Lorca

10 Desenho de mobiliário do Estudio de Arte Palma

11 Lina Bo Bardi com gato de estimação na Casa de Vidro

OS ANOS EM SALVADOR (1958-1964)

Em 1958, Lina foi a Salvador para dar conferências na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia e transferiu-se para lá no mesmo ano, após ser convidada para fundar e dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Realizou o projeto de restauro do Solar do Unhão e sua adaptação para a nova sede do recém inaugurado museu. Em 1959, organiza com Martim Gonçalves – com quem realizou diversos cenários para peças de teatro –  a exposição Bahia no Ibirapuera na V Bienal de Arte de São Paulo. Em 1963 ficou responsável pela curadoria da exposição Nordeste, a primeira realizada após a inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia. Durante esse período Lina se relacionou com importantes artistas de vanguarda, como o fotógrafo Pierre Verger e o cineasta Glauber Rocha. Deixou Salvador e regressou a São Paulo em 1964, ano do golpe militar.

1 Lina Bo Bardi, Saul Steinberg e sua esposa. Rio de Janeiro, 1952

Foto Cesar Diniz

2 Lina Bo Bardi restaurando azulejos na obra do Solar do Unhão. Salvador, início da década de 1960

3 Lina Bardi com mestre André na obra de restauro do Solar do Unhão. Salvador, 1962

4 Exposição Nordeste no Solar do Unhão (Salvador)

5 Lina Bo Bardi na véspera da inauguração da exposição Bahia no Ibirapuera, em São Paulo

Foto Miroslaw Javurek

6 Catálogo da exposição Bahia no Ibirapuera. São Paulo, 1959

7 Exposição Bahia no Ibirapuera, para a V Bienal de Arte de São Paulo

8 Lina Bo Bardi no Ibirapuera (São Paulo) para a exposição Bahia no Ibirapuera

9 Paulo Gil Soares, o câmera Waldemar Silva, Glauber Rocha e Lina Bo Bardi na filmagem "Deus e o Diabo na terra do sol". Bahia, 1963

10 Filmagem de "Deus e o Diabo na terra do sol". Monte Santo, 1963

DE VOLTA À SÃO PAULO E A RETOMADA DO PROJETO DO MASP (1964-1968)

Em 1965, realizou estudos para três projetos não construídos: um museu para o Instituto Butantã, um pavilhão de exposições no Parque Lage, no Rio de Janeiro, e um dos seus raros estudos de urbanização, uma proposta para a praia de Itamambuca, em Ubatuba. Retomou em 1966 o projeto do Museu de Arte de São Paulo, desenvolvendo adaptações e detalhamentos, além do acompanhando do canteiro de obras. O museu  foi inaugurado na Avenida Paulista, em 1968, com a exposição A mão do povo brasileiro. Em 1967, fez o projeto gráfico da revista recém lançada Mirante das Artes, editada por Pietro Maria Bardi.

1 Croqui de Lina Bo Bardi para o museu do Instituto Butantã. São Paulo, 1964

2 Desenho de Lina Bo Bardi para o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP)

3 Desenho de Lina Bo Bardi para o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP)

4 Lina Bo Bardi com mestre Canova no canteiro de obras do Museu de Arte de São Paulo (MASP) da Avenida Paulista.

5 Lina Bo Bardi na obra do Museu de Arte de São Paulo (MASP). São Paulo, fim da década de 1960

6 Estudo de Lina Bo Bardi para o auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP)

7 Estudo de Lina Bo Bardi para o Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Foto M. Javurek

8 Instalação dos vidros na obra do Museu de Arte de São Paulo (MASP). São Paulo, 1968

9 Lina Bo Bardi com Figueiredo Ferraz, na construção do Museu de Arte de São Paulo (MASP)Ferraz

10 Lina Bo Bardi, Figueiredo Ferraz, Aluisio D'Avila Pinto e Fonseca na construção Museu de Arte de São Paulo (MASP)

11 Estudo de Lina Bo Bardi para o cavalete de vidro do Museu de Arte de São Paulo (MASP)

12 Lina Bo Bardi testa cavalete de vidro para a Pinacoteca do MASP. 1967

Foto Lew Parrella

13 Exposição "A mão do povo brasileiro" no Museu de Arte de São Paulo (MASP) da Avenida Paulista

IMERSÃO NA CENA TEATRAL (1969-1976)

Os nove anos seguintes – que coincidem com os anos da ditadura militar –  configuraram-se como um período em que Lina dedicou-se majoritariamente à cenografia, em contato com importantes nomes da cena teatral e cinematográfica do momento, tais como José Celso Martinez Correia e Flávio Império. Iniciou, em 1969, sua parceria com Zé Celso realizando a arquitetura cênica e o figurino da peça Na Selva das Cidades. Com o mesmo diretor e com André Farias realizou, em 1970, também a cenografia do filme Prata Palomares. Colaborou, em 1971, no filme Gracias Señor de Flávio Império. Em 1975 Lina monta com o pintor Edmar José de Almeida a exposição Repassos, no MASP, sobre o trabalho das tecedeiras do Triângulo Mineiro.

1 Flávio Império e Lina Bo Bardi na escada do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

2 Croqui de estudo feito por Lina Bo Bardi para cenografia da peça Gracias Señor

3 Cenografia da Peça Na Selva das Cidades, elaborada por Lina Bo Bardi

4 Desenho de Lina Bo Bardi para a cenografia da peça Na Selva das Cidades

5 Atores Othon Bastos e Renato Borghi na peça Na Selva das Cidades. São Paulo, 1969

6 Croqui de Estudos feito por Lina para a peça Na Selva das Cidades

7 Prêmio melhor cenografia conquistado por Lina Bo Bardi pelo filme Prata Palomares, no XII Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Brasília, 1979

ÚLTIMA FASE DA CARREIRA, GRANDES PROJETOS (1977-1992)

Em 1977 retornou à cena arquitetônica com o início do projeto do centro de lazer do SESC Pompéia, que foi inaugurado em 1982. Consolidou nessa fase o início da parceria com seus jovens colaboradores Marcelo Ferraz, André Vainer e Marcelo Suzuki.  No mesmo ano, realizou novas instalações para o Museu de Arte Moderna do Parque Ibirapuera e, em 1984, começou a elaborar os primeiros desenhos para o projeto da sede do Teatro Oficina, ambos em São Paulo. Foi convidada em 1986, pela Prefeitura de Salvador, para desenvolver um projeto de recuperação de seu centro histórico. Nessa mesma ocasião, realizou outros projetos para a cidade, tais como o Teatro e Fundação Gregório de Mattos, a Casa do Benin (no Pelourinho), a recuperação das encostas da ladeira da Misericórdia e a Casa do Olodum. Em 1990 iniciou a restauração do edifício do Teatro Oficina (inaugurado em 1994) e o projeto – seu último – da nova sede do Palácio das Indústrias para a Prefeitura de São Paulo. Ainda em 1990, Lina e Pietro Maria fundaram o Instituto Quadrante – hoje Instituto Bardi/Casa de Vidro – com o intuito de “desenvolver isoladamente ou em conjunto com o Museu de Arte de São Paulo – Assis Chateaubriand – MASP e, ainda, com entidades nacionais e do exterior, atividades culturais e estudos relacionados com a história da arte e da arquitetura” – esteve à frente da vice-presidência desde a fundação até seu último ano de vida. 

Faleceu em São Paulo, no dia 20 de março de 1992, com 77 anos, tendo se tornado referência mundial pela sua trajetória e conjunto excepcional de sua obra. 

1 Lina Bo Bardi na escada do Museu de Arte de São Paulo (MASP) da Avenida Paulista

2 Lina Bo Bardi

Foto Bob Wolfenson

3 Lina Bo Bardi desenhando em Kamakura. Japão, 4 de outubro de 1978

4 Lina Bo Bardi na barraca das conchas em Kamakura. Japão, 1978

5 Desenho de Lina Bo Bardi para o pavilhão das crianças no Sesc Pompéia. São Paulo, 1977

6 Lina Bo Bardi em cerimônia no Sesc Pompeia

7 André Vainer, Lina Bo Bardi e Marcelo Ferraz no Sesc Pompéia

8 Rua interna do Sesc Pompeia

9 Vista do galpão do Sesc Pompéia

10 André Vainer, Lina Bo Bardi e Marcelo Ferraz (da esquerda para a direita) no SESC Pompéia. São Paulo, maio de 1983

11 Croqui de exposição no MAM Ibirapuera, feito por Lina Bo Bardi

12 Croqui do Teatro Gregorio de Mattos, em Salvador

13 Estudos de Lina Bo Bardi para o Teatro Oficina

14 Fachada do Teatro Oficina, com letreiro da peça Rei da Vela

15 Teatro Oficina em obra, letreiro da Prefeitura de São Paulo na fachada

16 Zé Celso em cadeira Frei Egidio, projetada por Lina Bo Bardi

17 Croqui para projeto da Prefeitura de São Paulo, último projeto de Lina Bo Bardi

18 Lina Bo Bardi na Casa de Vidro. São Paulo, 1988

Foto Marcelo Ferraz

19 Lina Bo Bardi em frente à lareira na Casa de Vidro

OBRAS DE LINA BO BARDI

Lina Bo Bardi possui uma produção excepcional de obras arquitetônicas construídas de grande reconhecimento e importância no Brasil e no mundo. Confira o mapa abaixo!